O Montepio de Nossa Senhora da Nazaré foi fundado em 1862, por especial empenho do boticário Cândido Marcelino Borges motivado por idênticas iniciativas que iam então surgindo um pouco por todo o País.

Inicialmente teve especial acolhimento junto dos comerciantes e dos artistas ou artífices de tal modo que estatutariamente estes deveriam fazer parte, obrigatoriamente da direcção, pelo menos em número de três sendo a sua denominação inicial a de Montepio dos Artífices Torrejanos. Como diria mais tarde o associado Carlos de Azevedo Mendes no 95º aniversário da sua fundação “as Misericórdias nasceram por impulsos de caridade cristã, as instituições de Socorros Mútuos, os Montepios, surgiram já por imperativos de justiça”.

As suas origens confundem-se na sua essência com as de tantas outras associações mutualistas surgidas em especial na segunda metade do século XIX um pouco por toda a Europa reflectindo o novo espírito de fraternidade humana que teve as suas raízes na Revolução Francesa.

Não vamos por isso maçar-vos com tais sabidas considerações mas antes e se nos permitem, acentuar um ponto essencial na história do mutualismo torrejano: a da complementaridade que sempre existiu na associação entre o mutualismo e a cultura em Torres Novas.

Em 1848, foi aberto ao público o então chamado Teatro União com a peça: “O Crime ou Vinte Anos de Remorsos”. Por impulso da chamada Sociedade União Dramática que em meados de 1866 é dissolvida dando origem, pelas mãos do Montepio dos Artífices Torrejanos (que havia sido recentemente constituído), ao Teatro Torrejano inaugurado a 29 de Abril de 1877 e que em 1895, passa a ser denominado Teatro Virgínia em homenagem à gloriosa actriz conterrânea Virgínia Dias da Silva (1850-1922).

Desde então, ou seja, desde 1877 até praticamente aos dias de hoje que o Teatro Virgínia esteve intimamente ligado ao Montepio. Localizado inicialmente ao lado do mercado do peixe, o antigo Virgínia deixaria de reunir as condições necessárias, dado o seu mau estado de conservação. Por impulso de um conjunto de associados, o Montepio procederia, então, à construção de um outro edifício correspondente ao do actual Teatro.

Em 27 de Outubro de 1956, foi inaugurado o novo Virgínia, projecto do arquitecto Fernando Schiapa de Campos, com a peça “As Meninas da Fonte da Bica”, de Ramada Curto, pela Companhia Amélia Rey Colaço-Robles Monteiro.
Como factor de divulgação cultural e como sustentáculo para a sua missão mutualista o Teatro Virgínia era a cara visível do Montepio de Nossa Senhora da Nazaré.

Foi sempre uma casa de cultura, de liberdade, aberto a todas as iniciativas promovidas, nas suas mais variadas vertentes, pela sociedade torrejana.

Recentemente por novos imperativos relacionados com a conservação das instalações e a crise das grandes salas de espectáculos o Montepio deliberou em boa hora vender o Virgínia à Câmara Municipal, que o recuperou e manteve dentro do seu espírito original. Foi com o produto desta venda que se levou a cabo a construção deste edifício, onde nos encontramos e que queremos revitalizar para os nossos objectivos estatutários: os de promover e desenvolver uma resposta eficaz e solidária ao nível da complementaridade dos sistemas públicos de segurança social e de saúde para os nossos associados.

É que o Mutualismo é uma forma de organização social. De tipo associativo, norteada pelos princípios da democracia, da liberdade, da independência e da entreajuda e que visa satisfazer as necessidades de protecção social dos seus membros, numa perspectiva de promoção do bem-estar e da melhoria da sua qualidade de vida sem quaisquer intuitos lucrativos.

No nosso entender estes objectivos continuam a poder ter um importante papel na sociedade actual. Na sociedade portuguesa, vão-se pôr a curto prazo grandes desafios às associações mutualistas. O facto de o Estado continuar a demonstrar ter, no presente e no futuro, dificuldade evidentes na gestão do sistema de Segurança social, vai fazer com que procure cada vez mais outros parceiros sociais para intervir na área da acção social (incluindo as da prestação de cuidados de saúde) e vai ter necessidade de fazer acordar as energias latentes na sociedade civil para fazer preservar o imprescindível processo de coesão social.

Salvo o devido respeito as associações mutualistas deverão reflectir sobre o sentido da oportunidade e aproveitá-lo para demonstrar que a solidariedade tem um corpo e um espaço próprios, o qual deve ser utilizado para engrandecer os indivíduos e não para os tornar mercadorias de uma sociedade de consumo de sentimentos e de valores.

A hipótese de crescimento das associações mutualistas em Portugal dependerá da sua oferta e do marketing social que desenvolvam. Sem traírem os seus valores e a sua doutrina devem, numa estratégia de afirmação, investir na rentabilização do seu património social, adaptando-se, evidentemente, às novas necessidades sociais que já estão bem definidas. Será, assim e ainda, uma forma positiva de poderem contribuir para a luta contra a exclusão social….
Neste contexto e animados destes propósitos os nossos objectivos imediatos são os seguintes:

– Aumentar o número de associados;
– Diversificar o maior número de benefícios em especial no sector dos cuidados de saúde privilegiando os profissionais que connosco possam compartilhar do espírito mutualista; a este propósito permitam-me que destaque a inestimável colaboração que nos tem vindo a ser dada, desinteressada e entusiasticamente, pelo senhor Dr. Pena Ramos.
– Levar a efeito iniciativas de carácter cultural e de divulgação do mutualismo e da solidariedade social.
Para o efeito contamos com o apoio e colaboração activa das instituições públicas e também das restantes IPSS do nosso concelho com quem nos propomos colaborar fraternalmente.